domingo, 20 de agosto de 2017

Drave, a aldeia mágica

A Aldeia da Drave é hoje conhecida por duas razões principais: é a base nacional da 4ª secção do CNE (quer dizer que é a base nacional dos escuteiros, mas só dos caminheiros, os mais velhos, os que têm lenços vermelhos) e é uma aldeia completamente deserta de outros habitantes. Além disso, os seus últimos moradores eram quase todos do mesmo ramo familiar, os Martins, que no início do anos 90 a abandonaram definitivamente.
São dois aglomerados populacionais em ruínas (há alguma habitações que estão a ser restauradas pelos escuteiros), mas a presença humana nunca deixou de se fazer sentir, pois há umas leiras que continuam a ser exploradas para cereal e há sempre a pastorícia que por lá anda.
Os trilhos que lhe dão acesso são dois, ambos lineares, sendo um deles mesmo um PR homologado, que parte de Regoufe e que exige uns bons 12 km de ida e vinda. A outra opção é levar os carros pelo acesso sul, por uma estrada de terra que sai da via alcatroada que vem da Fraguinha e Coelheira e segue para o Portal do Inferno. Aí se devem deixar ficar os carros em pequenos 'parques' laterais à via. Quanto mais velho for o carro ou quanto mais parecido for com um jipe ou TT, mais próximo permite chegar da aldeia. Foi este percurso que fiz recentemente e será o que o grupo da Bota Cansada irá fazer. Deixamos as viaturas a 2 km da aldeia, percorrendo-os a descer, primeiro, e a subir, depois.
A descida e a subida são íngremes, pelo que estes 4 km valem bem uma caminhada dita 'normal'.
No local onde se deixam as viaturas, o cenário circundante é majestoso, vendo-se os picos mais altos da serra da Freita, da Cabreira e de S. Macário. O verde lembra uma aliança de renovação e promessa de vida depois do horrível incêndio de 2016 (que, curiosamente, aconteceu no dia em que estivemos também na Drave, tendo feito o caminho por Regoufe). À medida que nos aproximamos, começamos a ver o casario no fundo do vale, junto à ribeira.



Quando o estradão termina, começa um estreito caminho de carro de bois que ziguezagueia pela encosta e nos leva até duas ribeiras que se encontram na parte oeste da aldeia.

A entrada é feita por uma ponte de madeira e logo aí sentimos o piso irregular das ruas. As casas são todas de xistilho e cobertas por lousas grandes e negras. Quebra esta tipicidade o branco da capelinha que aí existe. Uma vez dentro da aldeia, é impossível perdermo-nos, a não ser pelo encanto do local e pela paz que nos transmite.
Há alguns segredos que convém saber: as melhores poças para tomar banho na ribeira de Palhais são a montante e a jusante da ponte. A maior parte dos turistas fica na poça junto à ponte, mas vale a pena o esforço de subir o leito da ribeira ou descê-lo e procurar as ribeiras de água límpida que por lá se vão aguentando à seca do verão.
Na aldeia destaca-se ainda uma casa maior que, pomposamente, se chama 'Solar dos Martins'.
A memória do local merece as honras prestadas e abandonar a Drave, por qualquer um dos trilhos, ao fim da tarde (o sol desaparece cedo no vale, escondendo-se nos cumes da serra) deixa um sabor de nostalgia e a vontade de voltar. Voltaremos, sim. Será para muitos a primeira vez, mas, para outros, o ansiado regresso.






Sem comentários:

Enviar um comentário