domingo, 24 de setembro de 2017

PR4_ANS_Com adendas e Supressões


O PR4 ANS é conhecido também por Rota Das Picotas. A Rota dos Picotas inicia-se no parque verde do Nabão, em Ansião, a 500 metros da nascente do rio e no local que em tempos marcou o cruzamento do IC8 para a Constantina e leva os participantes ao sul do concelho, pelas freguesias de Chão de Couce e Pousaflores. Deve o seu nome aos engenhos de rega tradicionais muito comuns em algumas partes do percurso.
E viva o Sr. Comendador!
Ora a rota que a Bota Cansada propõe é apenas uma parte deste percurso total, cortando-o pela metade, deixando de lado os dois tramos que partem e regressam a Ansião. Para isso, é necessário ir de carro até à entrada de Pousaflores e começar apenas aí o percurso. Propomos que se inicie junto ao cemitério local, seguindo  pela esquerda e entrando no largo da Igreja após a passagem por um belo bosque de carvalhos e azinheiras.
A povoação de Pousaflores é hoje uma pequena aldeia, mas foi elevada à categoria de Vila, pela Carta de Foral que lhe foi outorgada pelo Rei D. Manuel, em 12 de Novembro de 1514. Como sede de concelho, teve Câmara, Pelourinho e Justiça própria. Hoje pode ver-se apenas uma parte da base e outra fração do fuste do pelourinho manuelino. A Igreja de Nossa Senhora das Neves é um templo  não muito antigo, de uma só nave, com cobertura em madeira de três planos. A Capela-Mor que era abobadada, e de grande interesse artístico, pela talha dourada que possuía, mas ardeu há mais de quarenta anos, devido a um curto-circuito,  e, por isso, havendo falta de recursos, a povoação optou por aproveitar apenas a parte de talha sobrante na base e do meio para cima, depois de encabeçar as colunas, preferiu uma pintura de Jerusalém, coisa que, no seu conjunto, não deixa de marcar, pela estranheza.

Guarda duas imagens de carácter popular, em pedra, com algum interesse: S. Sebastião e a padroeira, Nossa Senhora das Neves. Este é um bom local para uma breve pausa à sombra das árvores do largo da igreja, até porque ali se inicia a subida ao Monte da Ovelha, mais conhecido localmente por serra do Anjo da Guarda.


É o troço mais exigente do percurso. E quando digo subida, é mesmo uma SUBIIIDAAA, com as 14 estações da Via Sacra para fazer. é o nosso sacrifício de domingo! Lá no alto, está a capela, estruturas de apoio e algumas construções museológicas. O Ciclo do Pão, relacionado com moinho de vento, e a ermida do Anjo da Guarda são apenas alguns dos atractivos daquela serra.

De lá avistam-se todas as grandes elevações da serra de Sicó, do Espinhal e da zona de Figueiró dos Vinhos. Se em alguns locais as silvas dão rosas, aqui as pedras dão cedros e ciprestes, pontos de abrigo de outras espécies.

De facto, a flora e fauna são particularmente ricas, destacando-se a presença de perdizes, coelhos bravos e de 27 espécies diferentes de orquídeas que ali florescem na Primavera, além de pinheiros mansos, ciprestes, oliveiras e carvalhos. O seu miradouro é também um excelente ponto de paragem. Passando  a zona do moinho de vento e o miradouro da serra, a rota começa a descida para Ansião. É exatamente aqui que deixamos de seguir o trilho marcado e derivamos à direita, numa descida íngreme para um vale que separa a serra do Mouro da monte da Ovelha. Não está nada assinalado, mas não há que perder.


Antes de começarmos a descida a sério, é possível observar uma pequena fórnea, que acaba por ser o início do canhão fluviocársico bastante incipiente, muito humanizado e coberto de vegetação,  para voltar ao cruzamento inicial. Chegados ao vale do Camporês atravessa-se depois uma zona agrícola que conduz a Lisboinha e a Pousaflores, umas vezes por estrada, outras por caminhos agrícolas paralelos, mais ou menos 'limpos' e acessíveis.

Neste trilho, em particular, a Câmara de Ansião precisa de um reparo: sendo um dos trilhos recomendados no sítio da câmara, as marcações praticamente não existem: há umas poucas visíveis quando o trilho coincide com a GR28 (linhas brancas e vermelhas) e uns traços amarelos e brancos muito apagados em um ou dois postes. Além disso, em Lisboinha,   é possível encontar uma indicação bifurcada que manda para a direita quem quiser ir a pé para o Monte da Ovelha (com indicação de 1 hora) e para a esquerda quem quiser ir de bike (15 minutos). Ora, no GPX disponibilizado pela CMA, o percurso pedestre cai em cima do de bicicleta, não o outro.
NOTA: à ida ou à vinda, de carro, proponho uma visita ao centro de Chão de Couce e à igreja, onde figura um belo retábulo do grande pintor José Malhoa, figura familiar nesta região e que pintou uma bela imagem que humaniza os santos, afinal, aquilo que enforma a arte: a simplicidade do humano elevada ao sublime.

Caraterísticas do percurso:
Perfil - Circular
Extensão - 9,5 km.
Declive - Uma grande subida depois de Pousaflores e uma descida considerável depois do cabeço do Anjo.
Dificuldade - 3 em 5.



sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Circo de Gredos e Laguna Grande

O denominado Circo de Gredos é o maior de todo o sistema montanhoso central da Serra de Gredos, com 32 hectares, e inclui o mítico Pico Almanzor, o teto mais alto deste sistema, com 2.592 m.
Os glaciares formaram o Circo de Gredos pela ação erosiva do gelo, ao deslocar-se pelo terreno. na realidade, o fundo da bacia glaciar não é a Lagoa Grande (a 1.949 m.), mas a cova ou buraca Antón, situada a 2.000 m., aos pés do pico Almanzor e rodeada de cumes que superam os 2.400 m.

A Laguna Grande e o seu fundo corresponde a uma das zonas de sobrescavação do glaciar, uma vez que o centro deste  se encontrava a uns 8 km. Hoje, a lagoa tem uma cor azul esverdeada, sinal de que é rica em nutrientes e minerais, mas à medida que as estações avançam, a água torna-se mais transparente, principalmente na altura do degelo. No verão é quando ela fervilha de vida, daí ser mais opaca. como disse, a superfície média das suas águas localiza-se nos 1.940 m., mas o seu fundo está exatamente a 1.935 m. de altitude. A Bacia onde se situa é bem grande, mas a lagoa ocupa menos de 7 hectares. A sua largura e comprimento máximos são 183 e 630 metros, respetivamente. Desde novembro até abril ou maio, ela apresenta-se coberta de gelo.

Num dos extremos da lagoa encontra-se o refúgio, um local altamente procurado durante todo o ano. Como se imagina, tendo uma cantina e bar, além de dormitório e outras estruturas de apoi, tudo nele é caríssimo e custa os olhos da cara. todas as mercadorias são transportadas por helicóptero ou dois robustos cavalos que por lá andam a pastar, quando não há neve que impeça os acessos..Junto ao refúgio Laguna de Gredos encontra-se um cruzamento de rotas e pontos de partida para Cinco Lagunas (3 horas), Gargantón (1 horas), Portella de los Machos (1.30), Portella Bermeja (2 horas), Pico Almanzor (2 horas), etc. Aqui as rotas medem-se em horas, porque as distâncias são relativas. A dificuldade de todas elas é elevada, pelo perfil do terreno e o acumulado a subir ou descer.
O percurso completo  consiste num trilho linear, de ida e volta, com um total de pouco mais de 12 km. Porém, quem tiver mais ousadia e desejar realizar o périplo completo da lagoa, pode acrescentar mais uns  5 km, que vale bem a pena.
A partida é feita da Plataforma de Gredos, um parque de estacionamento de acesso condicionado segundo o clima e mediante o pagamento de uma taxa. Quando o trilho está intransitável, o acesso é fechado. Como se imagina, o percurso implica subir uma das elevações que fazem parte do perímetro do glaciar.
Por esta razão, subimos até aos 2.200 antes de começarmos  descer para a bacia glaciar. Mas antes, teremos percorrido uns 2 km de subida por carreiro ladrilhado com grandes pedras, demarcado também por traves de madeira em alguns pontos, por causa das marcações e mariolas de neve, que são essenciais para a orientação.
À direita de quem sobe, aparece-nos o refúgio Reguero-llano, um espaço que acolhe até 45 pessoas, com quase todas as comodidades e que aceita reservas.
Passamos ainda por uma fonte onde um amigo, dono da serra, nos cumprimenta com gestos ameaçadores, mas que mostra a majestade deste anima, a cabra montês, aqui e ali curiosas companhias que chegam a vir ter connosco. Mas abaixo, na zona da lagoa, encontrei um rebanho delas que eram muito mais ariscas e, ao mesmo tempo, ameaçadoras, principalmente os machos.

Quando atingimos a zona mais alta da nossa subida, temos duas visões de tirar o fôlego: olhando para a direita, vemos um profundo vale que se estende em direção a Navaredonda; à esquerda esmaga-nos a visão das cordilheira em círculo, como um larguíssimo anfiteatro grego, cada pico parece mais agudo que o anterior, mas destaca-se por lá o Almanzor, o mais alto de todos,
A partir daqui temos de seguir em descida de zigue-zague, pisando as lajes de apoio e, já agora, bebendo água na fonte que, até hoje, me deu a água mais fria ao natural. Só quando se está quase no fundo da descida é que é possível avistar a lagoa grande, que, á primeira vista, parece bem pequena. Só lá chegando é que se vê que, afinal, merece o nome que tem, atendendo à localização e época do ano.
Vale a pena volta e, se  for possível, em, cada uma das estações, com novas cores e desafios.

Caraterísticas do percurso:
Tipo - Linear
Extensão - 12.8 km (sem contorno da lagoa)
Grau de dificuldade - 4,5 em 5 (Difícil)