quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Ferraria de S. João e S. João do Deserto


O Caminho de Xisto da Ferraria de S. João é um percurso circular de quase 5 km. com uma variante mais pequena e acessível, que permite encurtar para metade e diminuir o grau de dificuldade para o mínimo. Supostamente, este percurso completo passaria pelas hortas circundantes e que ladeiam a Ribeira das Ferrarias, passando ainda por poços e picotas para tirar a água. 
Acabando esta parte em descida atinge-se a ponta mais a sul do mesmo, passando na Fraga Amarela, com as suas cristas quartzíticas de tom amarelado, devido aos líquenes que a cobrem, o que a distingue da Fraga Vermelha, que se lhe opõe do outro lado do vale.

No regresso, feito pela crista do monte até ao ponto mais alto da cumeada, descemos para a aldeia, passando nos currais comunitários, o ex-líbris da caminhada, situado num dos limites da frondosa mata de sobreiros.
Alcandorada numa crista quartzítica no extremo sul da serra da Lousã, aqui descobre-se como o xisto e o quartzo se casam numa união tão perfeita que só poderia acontecer em Ferraria de São João. O material de construção predominante é o quartzito, embora algumas fachadas dos edifícios se encontrem rebocadas e pintadas de branco.


A malha urbana possui um núcleo central, mais denso, construções genericamente alinhadas ao longo das ruas do aglomerado e um numeroso conjunto de currais, agrupados num dos extremos da aldeia.
O cenário de fundo perfeito para emoldurar o ex-líbris da Aldeia: um conjunto de currais comunitários na orla de um imenso e mágico montado de sobreiros. Um dos projetos mais visíveis e de maior sucesso da Associação de Moradores, revitalizada pelos novos habitantes, é a adoção de sobreiros. Nos incêndios de junho de 2017, esta aldeia foi um grande exemplo de como a existência do montado e outras árvores pouco combustíveis a salvou da tragédia. Hoje vê-se bem a plantação de mais sobreiros, numa faixa protetora larga.
Esta aldeia possui, junto à capela, 
o primeiro centro de BTT do país, um espaço de apoio à prática desta modalidade e apoio mecânico às próprias bicicletas, com lavagem, mecânica e ar para pneus.







Esta seria, supostamente a descrição que a rota contemplaria, contudo, à data de hoje, setembro de 2018, este percurso está totalmente despojado do interesse, devido ao incêndio que arrasou o trilho, levando a que na parte da montanha não haja árvores e os pequenos tojos dominem, que algumas pontes e passagens tenham ardido, impedindo a progressão e, em consequência o trilho tenha sido votado ao abandono e a ribeira esteja coberta por vegetação e inertes arrastados pela chuva, não sendo mais do que um rego húmido e com alguns charcos aqui e ali. 
Apesar disso, e uma vez que estava em campo para traçar alguma via, descobri que seria fácil e possível ligar este trilho à ermida de S. João do Deserto, e assim foi. Aproveitando a parte da Rota mais próxima à aldeia de Ferraria de S. João, devemos fazer uma breve ascensão em zig-zag, até atingirmos um caminho florestal que segue para norte e encontra a estrada de macadame que nos levará até à ermida.  

O espaço está à altitude de 854 metros e na fronteira do concelho de Penela com o de Miranda do Corvo. Este miradouro domina uma vasta região, avistando-se para oeste Penela e Condeixa e para norte e nordeste os contrafortes da serra da Lousã. Possui igualmente vista sobre os campos circundantes marcados pela profusão de oliveiras e nogueiras.
Local de grande interesse geológico, conhecido por Cristas dos Penedos das Relvas ou Cristas do Espinhal, ou ainda por Teto das Ferrarias, cuja formação rochosa remonta ao período Pré-Câmbrico. O miradouro, uma construção de cimento e tijolo, à qual se acede por uma escada em cimento, está exatamente construído sobre esta crista mais saliente.

A propósito deste promontório, dizia-nos Eugénio de Castro:  "Com um bom binóculo e um pouco de imaginação, avistam-se dali cinco Distritos, além, evidentemente, do de Coimbra: os Distritos de Leiria, Castelo Branco, Guarda, Viseu e Aveiro. Subir alguns quilómetros para ver cinco Distritos, temos de reconhecer que vale a pena. E não se gasta nada, a não ser as botas." Mal ele imaginava que as botas se podem também cansar.
No alto encontram-se alguns edifícios sendo de destacar, obviamente, a capela e o miradouro.
A capela é dedicada ao culto de S. João e de Nª Serª do Bom Despacho e remonta aos inícios do século XVI. Há lá um pequeno queimador de velas, onde dois painéis de azulejos pintados com ingenuidade naïf evocam ambos os cultos.

Espalhadas pelo recinto à volta encontram-se imensas pedras grandes e trabalhadas para a construção de monumentos. Realizei algumas pesquisas, mas não foi possível saber a sua origem: se pertencem a algum monumento  destruído ou se nunca foram usadas na construção final ou, ainda, se pertenciam aqui ou não.
O regresso faz-se através de uma senda em terra, mas com um declive muito acentuado. É possível depois seguir uma ou duas vias diferentes até à aldeia. Uma delas passa ainda por uma pequena lagoa, que serve de manancial e ponto de bebida para os inúmeros animais selvagens que povoam a serra.
Pessoalmente ouvi uma manada de javalis a grunhir e vi 4 fêmeas de veado muito próximas dessa mesma lagoa.


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