segunda-feira, 5 de março de 2018

Da idade do Bronze ao Românico de D. Mafalda

Rota do Românico é uma designação tão inespecífica como 'Rota do Vinho' ou 'Rota dos Templários'. Não há só uma localidade ou região com vestígios arquitetónicos e culturais da época em causa. Assim, a Bota Cansada  a propõe a visita breve a três templos românicos em terras de Penafiel e de Entre-os-Rios, misturando a visita a outros testemunhos de épocas bem mais recuadas..



Iniciamos o percurso na igreja de S.Gens de Boelhe,

seguindo depois a pé para o local onde se situa um pequeno trilho da pré-história, que se inicia na visita ao Menir de Luzim (um monólito granítico de secção pentagonal, com cerca de2,5 metros de altura e sem decoração) e um pequeno afloramento no solo que revela várias gravuras rupestres, com pedomorfos insculpidos conhecidos como “pegadinhas de S. Gonçalo”.

e segue depois por um breve trilho linear até
As gravuras rupestres conhecidas como “pegadinhas de S. Gonçalo” revelam quatro pedomorfos, orientados a Nascente-Poente, articulados com cinco fossettes ou “covinhas”, e ainda um motivo geométrico em “T”, relacionado com outras duas fossettes. Não pode precisar-se a sua datação, mas é genericamente aceite que esta arte rupestre é mais recente que os monumentos megalíticos aos quais se associa, desenvolvendo-se a partir do IIIº milénio a.C. até à Idade do Bronze.

Seguindo pelo caminho traçado no monte, por entre a necrópole megalítica de Sequeiros, constituída por um conjunto de mamoas muito erosionadas e já pouco perceptíveis no terreno, chegaremos ao segundo conjunto de insculturas rupestres, conhecidas como gravuras de Lomar, núcleo maior e mais diversificado que o anterior.
Podem ali apreciar-se, talhadas num pequeno granítico aplanado, quase cem insculturas de motivos variados, entre os quais abundam os pedomorfos agrupados e alinhados em diferentes posições, inúmeras fossettes, e ainda alguns motivos halteriformes e paracirculares.
Este núcleo de arte rupestre integra quase cem insculturas de motivos variados, talhadas num pequeno penedo granítico aplanado que se destaca do solo. Entre os símbolos representados abundam os pedomorfos agrupados e alinhados em diferentes posições, inúmeras fossettes, e ainda alguns motivos halteriformes e paracirculares. Desconhece-se o verdadeiro significado destes núcleos artísticos, bem como a simbologia dos motivos representados. Os pedomorfos, por exemplos, muito comuns neste tipo de arte rupestre, são normalmente interpretados como a representação esquemática do pé humano, podendo associar-se à ideia de um percurso ou caminhada. Há contudo, várias interpretações que relacionam esta arte esquemática e abstracta não só com a sacralização dos lugares, mas também com a delimitação territorial e/ou com rituais iniciáticos.
Seguiremos adiante, descendo para a povoação de Luzim, e onde se volta até S. gens, em Boelhe. Aí há um moinho que aproveita a pouca água da levada de uma forma originalíssima e creio que é caso único.
A paragem seguinte será na igreja românica do Salvador de Cabeça Santa, 
uma igreja românica composta por uma só nave rectangular, com capela-mor quadrangular separada da nave por arco cruzeiro de volta perfeita, assente sobre colunas com capitéis e impostas decorados com motivos fito e zoomórficos. No portal axial predomina o mesmo tipo de decoração zoomórfica. Mais tardias, foram-lhe anexadas uma capela lateral e uma pequena sacristia. Anterior a 1258, a sua fundação é tradicionalmente atribuída a D. Mafalda, filha de D. Sancho I, embora Carlos Alberto Ferreira de Almeida aponte a construção do actual templo para meados do século XIII, com base em critérios estilísticos. Tendo sofrido obras de remodelação levadas a cabo pela D.G.E.M.N. na década de 50, foi-lhe retirada da fachada a torre sineira que ali se encontrava. 


A paróquia mantém a denominação original, Gândara, embora a freguesia seja mais conhecida pelo topónimo de Cabeça Santa devido à existência de uma relíquia venerada desde a Idade Média, roubada no final do século XX.
De viaturas, seguimos ainda para Oldrões, onde começamos um percurso circular de uns  8 km, que passa pelo monte Mozinho e o seu famosíssimo Castro.


O Castro de Monte Mozinho, nas freguesias de Oldrões e Galegos, concelho de Penafiel, é um povoado fortificado de altura que ocupa um cabeço destacado da serra, com 408 m de altitude.  
Povoado castrejo de época romana, fundado no século I d.C. mas com uma ampla cronologia de ocupação, que chega mesmo a atingir o século V, é fortificado com duas linhas de muralhas. O castro possui uma extensa área habitada, com cerca de 22 hectares, e apresenta diversas reformulações urbanísticas, sendo possível observar vários tipos de construção, desde núcleos de casas-pátio de
tradição castreja, com compartimentos circulares e vestíbulo, às complexas habitações romanas de planta quadrada ou retangular. Na parte superior do castro destaca-se a muralha do século I, cuja entrada era flanqueada por dois torreões onde se encontravam duas estátuas de guerreiros galaicos, atualmente no Museu Municipal. O topo do castro é coroado pela acrópole, delimitada por um espesso muro e estéril em construções interiores. Aí se desenrolariam atividades várias, como jogos, assembleias, mercado, etc.


  Fonte: Intinerário Arqueológico do Vale do Tâmega

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