O Caminho de Xisto da Ferraria de S. João é um percurso circular de
quase 5 km. com uma variante mais pequena e acessível, que permite encurtar
para metade e diminuir o grau de dificuldade para o mínimo. Supostamente, este
percurso completo passaria pelas hortas circundantes e que ladeiam a Ribeira
das Ferrarias, passando ainda por poços e picotas para tirar a água.
No regresso, feito pela crista do monte até ao ponto mais alto da cumeada, descemos para a aldeia, passando nos currais comunitários, o ex-líbris da caminhada, situado num dos limites da frondosa mata de sobreiros.
Alcandorada numa crista quartzítica no extremo sul da serra da Lousã,
aqui descobre-se como o xisto e o quartzo se casam numa união tão perfeita que
só poderia acontecer em Ferraria de São João. O material de construção
predominante é o quartzito, embora algumas fachadas dos edifícios se encontrem
rebocadas e pintadas de branco.
A malha urbana possui um núcleo central, mais denso, construções
genericamente alinhadas ao longo das ruas do aglomerado e um numeroso conjunto
de currais, agrupados num dos extremos da aldeia.
O cenário de fundo perfeito para emoldurar o ex-líbris da Aldeia: um
conjunto de currais comunitários na orla de um imenso e mágico montado de
sobreiros. Um dos projetos mais visíveis e de maior sucesso da Associação de
Moradores, revitalizada pelos novos habitantes, é a adoção de sobreiros. Nos incêndios
de junho de 2017, esta aldeia foi um grande exemplo de como a existência do
montado e outras árvores pouco combustíveis a salvou da tragédia. Hoje vê-se
bem a plantação de mais sobreiros, numa faixa protetora larga.
Esta aldeia possui, junto à capela,
o primeiro centro de BTT do país, um espaço de
apoio à prática desta modalidade e apoio mecânico às próprias bicicletas, com
lavagem, mecânica e ar para pneus.
Esta seria, supostamente a descrição que a rota contemplaria, contudo,
à data de hoje, setembro de 2018, este percurso está totalmente despojado do
interesse, devido ao incêndio que arrasou o trilho, levando a que na parte da
montanha não haja árvores e os pequenos tojos dominem, que algumas pontes e
passagens tenham ardido, impedindo a progressão e, em consequência o trilho
tenha sido votado ao abandono e a ribeira esteja coberta por vegetação e
inertes arrastados pela chuva, não sendo mais do que um rego húmido e com
alguns charcos aqui e ali.
Local de grande interesse geológico, conhecido por Cristas dos Penedos das Relvas ou Cristas do Espinhal, ou ainda por Teto das Ferrarias, cuja formação rochosa remonta ao período Pré-Câmbrico. O miradouro, uma construção de cimento e tijolo, à qual se acede por uma escada em cimento, está exatamente construído sobre esta crista mais saliente.
A propósito deste promontório, dizia-nos Eugénio de Castro: "Com um bom binóculo e um pouco de imaginação, avistam-se dali cinco Distritos, além, evidentemente, do de Coimbra: os Distritos de Leiria, Castelo Branco, Guarda, Viseu e Aveiro. Subir alguns quilómetros para ver cinco Distritos, temos de reconhecer que vale a pena. E não se gasta nada, a não ser as botas." Mal ele imaginava que as botas se podem também cansar.
No alto encontram-se alguns edifícios sendo de destacar, obviamente, a
capela e o miradouro.
A capela é dedicada ao culto de S. João e de Nª Serª do
Bom Despacho e remonta aos inícios do século XVI. Há lá um pequeno queimador de
velas, onde dois painéis de azulejos pintados com ingenuidade naïf evocam ambos
os cultos.
Espalhadas pelo recinto à volta encontram-se imensas pedras grandes e
trabalhadas para a construção de monumentos. Realizei algumas pesquisas, mas
não foi possível saber a sua origem: se pertencem a algum monumento destruído ou se nunca foram usadas na
construção final ou, ainda, se pertenciam aqui ou não.
O regresso faz-se através de uma senda em terra, mas com um declive
muito acentuado. É possível depois seguir uma ou duas vias diferentes até à
aldeia. Uma delas passa ainda por uma pequena lagoa, que serve de manancial e
ponto de bebida para os inúmeros animais selvagens que povoam a serra.
Pessoalmente
ouvi uma manada de javalis a grunhir e vi 4 fêmeas de veado muito próximas
dessa mesma lagoa.
Serras de uma beleza rara e aqui tão perto.
ResponderEliminarEste domingo já estou comprometido.
ResponderEliminarMuito boas, as fotos. Obrigada, Vicente, pela partilha.
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