domingo, 3 de dezembro de 2017

Barcouço - Do belo-horrível à gruta do Carregal

A Povoação de Barcouço fica bem perto de Coimbra, a norte, à esquerda do cruzamento de Santa Luzia. A povoação é hoje um vasto dormitório de Coimbra, mas mantém ainda traços de uma comunidade que, originariamente, sobrevivia essencialmente da agricultura.
A caminhada que propomos parte do centro da aldeia, seguindo para este e derivando em forte descida por um trilho de terra até à fonte velha. Daí seguimos até ao extremo oeste da povoação e, a partir de um rotunda, saímos para um trilho de BTT marcado depois da trágica ocorrência dos fogos.
Não tenho palavras para descrever exatamente o que se sente ao percorrer os meandros deste trilho. Ora descendo, ora subindo até às antenas de telefones, os esqueletos negros das árvores lembram-nos a fragilidade dos ecossistemas e como, de um momento para o outro, tudo se pode perder. A contemplação deste belo-horrível, dos troncos tisnados e calcinados acompanham-nos por quase um quilómetro.
Chegados ao topo  seguiremos pela rua da igreja velha e depois contornamos Barcouço pela esquerda, até apanharmos o quelho que nos conduz ao segundo trilho de BTT, que começa junto ao Centro de Dia e passa pela bela gruta do Carregal,
uma lapa gigante visitável por toda  gente e com uma grutav reservada aos mais ousados e especialistas.
O trilho segue depois por bosques e túneis de vegetação e terminamos num caminho que, à esquerda, nos leva para para um planalto fértil, onde se cultiva de tudo.
Encontrando a rua da Gàndara, viramos à direita e voltamos ao centro da povoação.
São uns 10 km. muito interessantes. A não perder!



domingo, 24 de setembro de 2017

PR4_ANS_Com adendas e Supressões


O PR4 ANS é conhecido também por Rota Das Picotas. A Rota dos Picotas inicia-se no parque verde do Nabão, em Ansião, a 500 metros da nascente do rio e no local que em tempos marcou o cruzamento do IC8 para a Constantina e leva os participantes ao sul do concelho, pelas freguesias de Chão de Couce e Pousaflores. Deve o seu nome aos engenhos de rega tradicionais muito comuns em algumas partes do percurso.
E viva o Sr. Comendador!
Ora a rota que a Bota Cansada propõe é apenas uma parte deste percurso total, cortando-o pela metade, deixando de lado os dois tramos que partem e regressam a Ansião. Para isso, é necessário ir de carro até à entrada de Pousaflores e começar apenas aí o percurso. Propomos que se inicie junto ao cemitério local, seguindo  pela esquerda e entrando no largo da Igreja após a passagem por um belo bosque de carvalhos e azinheiras.
A povoação de Pousaflores é hoje uma pequena aldeia, mas foi elevada à categoria de Vila, pela Carta de Foral que lhe foi outorgada pelo Rei D. Manuel, em 12 de Novembro de 1514. Como sede de concelho, teve Câmara, Pelourinho e Justiça própria. Hoje pode ver-se apenas uma parte da base e outra fração do fuste do pelourinho manuelino. A Igreja de Nossa Senhora das Neves é um templo  não muito antigo, de uma só nave, com cobertura em madeira de três planos. A Capela-Mor que era abobadada, e de grande interesse artístico, pela talha dourada que possuía, mas ardeu há mais de quarenta anos, devido a um curto-circuito,  e, por isso, havendo falta de recursos, a povoação optou por aproveitar apenas a parte de talha sobrante na base e do meio para cima, depois de encabeçar as colunas, preferiu uma pintura de Jerusalém, coisa que, no seu conjunto, não deixa de marcar, pela estranheza.

Guarda duas imagens de carácter popular, em pedra, com algum interesse: S. Sebastião e a padroeira, Nossa Senhora das Neves. Este é um bom local para uma breve pausa à sombra das árvores do largo da igreja, até porque ali se inicia a subida ao Monte da Ovelha, mais conhecido localmente por serra do Anjo da Guarda.


É o troço mais exigente do percurso. E quando digo subida, é mesmo uma SUBIIIDAAA, com as 14 estações da Via Sacra para fazer. é o nosso sacrifício de domingo! Lá no alto, está a capela, estruturas de apoio e algumas construções museológicas. O Ciclo do Pão, relacionado com moinho de vento, e a ermida do Anjo da Guarda são apenas alguns dos atractivos daquela serra.

De lá avistam-se todas as grandes elevações da serra de Sicó, do Espinhal e da zona de Figueiró dos Vinhos. Se em alguns locais as silvas dão rosas, aqui as pedras dão cedros e ciprestes, pontos de abrigo de outras espécies.

De facto, a flora e fauna são particularmente ricas, destacando-se a presença de perdizes, coelhos bravos e de 27 espécies diferentes de orquídeas que ali florescem na Primavera, além de pinheiros mansos, ciprestes, oliveiras e carvalhos. O seu miradouro é também um excelente ponto de paragem. Passando  a zona do moinho de vento e o miradouro da serra, a rota começa a descida para Ansião. É exatamente aqui que deixamos de seguir o trilho marcado e derivamos à direita, numa descida íngreme para um vale que separa a serra do Mouro da monte da Ovelha. Não está nada assinalado, mas não há que perder.


Antes de começarmos a descida a sério, é possível observar uma pequena fórnea, que acaba por ser o início do canhão fluviocársico bastante incipiente, muito humanizado e coberto de vegetação,  para voltar ao cruzamento inicial. Chegados ao vale do Camporês atravessa-se depois uma zona agrícola que conduz a Lisboinha e a Pousaflores, umas vezes por estrada, outras por caminhos agrícolas paralelos, mais ou menos 'limpos' e acessíveis.

Neste trilho, em particular, a Câmara de Ansião precisa de um reparo: sendo um dos trilhos recomendados no sítio da câmara, as marcações praticamente não existem: há umas poucas visíveis quando o trilho coincide com a GR28 (linhas brancas e vermelhas) e uns traços amarelos e brancos muito apagados em um ou dois postes. Além disso, em Lisboinha,   é possível encontar uma indicação bifurcada que manda para a direita quem quiser ir a pé para o Monte da Ovelha (com indicação de 1 hora) e para a esquerda quem quiser ir de bike (15 minutos). Ora, no GPX disponibilizado pela CMA, o percurso pedestre cai em cima do de bicicleta, não o outro.
NOTA: à ida ou à vinda, de carro, proponho uma visita ao centro de Chão de Couce e à igreja, onde figura um belo retábulo do grande pintor José Malhoa, figura familiar nesta região e que pintou uma bela imagem que humaniza os santos, afinal, aquilo que enforma a arte: a simplicidade do humano elevada ao sublime.

Caraterísticas do percurso:
Perfil - Circular
Extensão - 9,5 km.
Declive - Uma grande subida depois de Pousaflores e uma descida considerável depois do cabeço do Anjo.
Dificuldade - 3 em 5.



sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Circo de Gredos e Laguna Grande

O denominado Circo de Gredos é o maior de todo o sistema montanhoso central da Serra de Gredos, com 32 hectares, e inclui o mítico Pico Almanzor, o teto mais alto deste sistema, com 2.592 m.
Os glaciares formaram o Circo de Gredos pela ação erosiva do gelo, ao deslocar-se pelo terreno. na realidade, o fundo da bacia glaciar não é a Lagoa Grande (a 1.949 m.), mas a cova ou buraca Antón, situada a 2.000 m., aos pés do pico Almanzor e rodeada de cumes que superam os 2.400 m.

A Laguna Grande e o seu fundo corresponde a uma das zonas de sobrescavação do glaciar, uma vez que o centro deste  se encontrava a uns 8 km. Hoje, a lagoa tem uma cor azul esverdeada, sinal de que é rica em nutrientes e minerais, mas à medida que as estações avançam, a água torna-se mais transparente, principalmente na altura do degelo. No verão é quando ela fervilha de vida, daí ser mais opaca. como disse, a superfície média das suas águas localiza-se nos 1.940 m., mas o seu fundo está exatamente a 1.935 m. de altitude. A Bacia onde se situa é bem grande, mas a lagoa ocupa menos de 7 hectares. A sua largura e comprimento máximos são 183 e 630 metros, respetivamente. Desde novembro até abril ou maio, ela apresenta-se coberta de gelo.

Num dos extremos da lagoa encontra-se o refúgio, um local altamente procurado durante todo o ano. Como se imagina, tendo uma cantina e bar, além de dormitório e outras estruturas de apoi, tudo nele é caríssimo e custa os olhos da cara. todas as mercadorias são transportadas por helicóptero ou dois robustos cavalos que por lá andam a pastar, quando não há neve que impeça os acessos..Junto ao refúgio Laguna de Gredos encontra-se um cruzamento de rotas e pontos de partida para Cinco Lagunas (3 horas), Gargantón (1 horas), Portella de los Machos (1.30), Portella Bermeja (2 horas), Pico Almanzor (2 horas), etc. Aqui as rotas medem-se em horas, porque as distâncias são relativas. A dificuldade de todas elas é elevada, pelo perfil do terreno e o acumulado a subir ou descer.
O percurso completo  consiste num trilho linear, de ida e volta, com um total de pouco mais de 12 km. Porém, quem tiver mais ousadia e desejar realizar o périplo completo da lagoa, pode acrescentar mais uns  5 km, que vale bem a pena.
A partida é feita da Plataforma de Gredos, um parque de estacionamento de acesso condicionado segundo o clima e mediante o pagamento de uma taxa. Quando o trilho está intransitável, o acesso é fechado. Como se imagina, o percurso implica subir uma das elevações que fazem parte do perímetro do glaciar.
Por esta razão, subimos até aos 2.200 antes de começarmos  descer para a bacia glaciar. Mas antes, teremos percorrido uns 2 km de subida por carreiro ladrilhado com grandes pedras, demarcado também por traves de madeira em alguns pontos, por causa das marcações e mariolas de neve, que são essenciais para a orientação.
À direita de quem sobe, aparece-nos o refúgio Reguero-llano, um espaço que acolhe até 45 pessoas, com quase todas as comodidades e que aceita reservas.
Passamos ainda por uma fonte onde um amigo, dono da serra, nos cumprimenta com gestos ameaçadores, mas que mostra a majestade deste anima, a cabra montês, aqui e ali curiosas companhias que chegam a vir ter connosco. Mas abaixo, na zona da lagoa, encontrei um rebanho delas que eram muito mais ariscas e, ao mesmo tempo, ameaçadoras, principalmente os machos.

Quando atingimos a zona mais alta da nossa subida, temos duas visões de tirar o fôlego: olhando para a direita, vemos um profundo vale que se estende em direção a Navaredonda; à esquerda esmaga-nos a visão das cordilheira em círculo, como um larguíssimo anfiteatro grego, cada pico parece mais agudo que o anterior, mas destaca-se por lá o Almanzor, o mais alto de todos,
A partir daqui temos de seguir em descida de zigue-zague, pisando as lajes de apoio e, já agora, bebendo água na fonte que, até hoje, me deu a água mais fria ao natural. Só quando se está quase no fundo da descida é que é possível avistar a lagoa grande, que, á primeira vista, parece bem pequena. Só lá chegando é que se vê que, afinal, merece o nome que tem, atendendo à localização e época do ano.
Vale a pena volta e, se  for possível, em, cada uma das estações, com novas cores e desafios.

Caraterísticas do percurso:
Tipo - Linear
Extensão - 12.8 km (sem contorno da lagoa)
Grau de dificuldade - 4,5 em 5 (Difícil)


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Mata da Curvachia_Leiria

A mata da Curvachia é um pequeno tesouro natural que se esconde muito perto de Leiria. É uma vasta mata rodeada por pequenas malhas urbanas: a este, Martinela e Vale de Santa Margarida, a sul por Soutocico (freguesia do Arrabal), a oeste, por Vidigal e, a norte, por Charneca da Touria e outros lugarejos.

É constituída essencialmente por um denso carvalhal, com centenas de anos, sendo o mais antigo carvalhal da Península ibérica (alguns afirmam que será mesmo da Europa). isso não quer dizer que as árvores são as mais antigas; apenas quer dizer que mantém esta vegetação de forma constante há mais tempo. nele encontram-se carvalhos centenários, bem conhecidos nas redes sociais.
Apesar desta riqueza, observa-se uma pressão por todos os lados feita pelos pinhais (pinheiro bravo, em menor quantidade, e pinhetro manso, em maior número) e o malfalado eucalipto. isso causa pena, porque os trilhos que bordejam a mata já pouco entram na zona de carvalhal. por essa razão, os percursos traçados devem tentar andar pelo seu interior, sempre que possível. Se alguém quiser percorrer todo o intrincado de trilhos que ela comporta, não o consegue fazer num só dia. Por esta razão é que ninguém faz o mesmo percurso que os outros fizeram, pois não há qualquer marcação e tudo é muito intuitivo.


Fazem parte deste cenário o Vale da Ribeira das Chitas, vale rural com vestígios arqueológicos e agrícolas antigos, e a Mata da Curvachia, mata de carvalhos e de vegetação mediterrânica, com grande valor botânico, onde se encontra um carvalho secular, árvore imponente que deveria fazer parte do nosso património botânico a preservar.


Na mata encontraram-se vestígios pré-históricos, que se poderão associar às comunidades que viveram há milénios no vale do Lapedo, especialmente peças de sílex, utilizadas pelos homens de então.Na exposição patente no Centro de Interpretação do Menino do Lapedo estão expostos os achados encontrados na Martinela, na Ribeira das Chitas e na Mata da Curvachia.
Além de sermos continuamente surpreendidos pelos túneis entrançados de troncos (a fazer lembrar a mata dos Hobbits) é possível ainda  observar alguns poços, construções esparsas de fornos de cal, uma cascata feita de um açude e ainda as lapas, nome que os locais deram às reentrâncias nas paredes cársicas do vale da Ribeira das Chitas, onde terão vivido pequenas comunidades pré-históricas.







Caraterísticas do percurso:
Perfil - Circular ou linear (a decisão depende das conveniências logísticas, no nosso caso apontamos para um percurso circular)
Dificuldade - 2/5  - fácil a moderada
Extensão - variável, mas a versão que se propõe é de 12 km.


domingo, 27 de agosto de 2017

PR1_MRG Foz do Lis e Praia da Vieira



Situada no seio das históricas Matas Nacionais, a Praia da Vieira destaca-se na costa ocidental portuguesa pelas suas origens muito singulares. No extremo norte do Pinhal de Leiria, junto das margens do Lis, cresceu uma comunidade que foi historicamente moldada por circunstâncias ecológicas originais, palco da luta antiga entre a floresta e as areias fortemente batidas pelo vento.


Em 1701 mudou-se o leito do rio, abrindo-se-lhe uma saída no Enleado, 200 metros a jusante do Cais Velho. Num contexto ambiental tão sensível, onde as dunas avançavam 7 a 10 metros por ano, o objetivo daquela obra, e subsequentes, visava o aproveitamento dos campos agrícolas para benefício da Fazenda do Infantado.
Na nossa caminhada iremos percorrer as duas margens do rio na sua parte final, um pouco antes de desaguar no mar.
Ao longo do Percurso Pedonal da Praia da Vieira ficaremos a conhecer alguns dos motivos da singularidade histórica e ambiental da gesta vieirense.
 

Trata-se de uma região costeira resultante da junção de três tipologias de unidades de paisagem: Mata Nacional de Leiria, troço final da bacia hidrográfica do rio Lis e ainda os vulneráveis sistemas dunares associados às praias arenosas.

Com início na margem sul do rio Lis, o Percurso Pedonal da Praia da Vieira desenvolve-se a partir de sistemas dunares, atravessa o núcleo urbano da Praia da Vieira e novamente sobre as dunas, estende-se para o interior da Mata Nacional de Leiria. Sem dúvida que a parte mais bonita é a envolvente das duas maregs do rio. Com a maré baixa é possível observar inúmeras espécies de aves pernaltas a tentar colher o almoço.


Vimos uma belíssima garça cinzenta.

Posteriormente, o percurso sai do ambiente de pinhal e chega à margem sul do rio Lis, onde toda a envolvência é característica dos corredores ribeirinhos fluviais.

Depois de atravessarmos a ponte da Bajanca para a margem norte do rio, o percurso desenvolve-se praticamente em linha reta até ao mar, culminando num dos sistemas dunares mais bem conservados da Praia da Vieira.





Fonte (parcial): C.M. Marinha Grande 

Caraterísticas do percurso.
Perfil - Circular
Elevação - 0-30
Dificuldade - 1/5 (muito fácil) 
Extensão - 11 km.

domingo, 20 de agosto de 2017

Altinho do Gestoso e parte do PR15

Para o segundo dia na serra da Freita na edição de 2017 está reservado um circuito suave e calmo, mas de uma beleza fantástica.

Canta a canção que:
A Sra. da Saúde, a Sra da Saúde
Onde a foram levar
Ao altinho do Gestoso
Viradinha para o mar.
Eis que vamos fazer isso mesmo: numa manhã faz-se tudo. Com saída da casa do Vidoeiro, subiremos a uma quebrada que dá acesso a um trilho (caminho velho) que só os que têm saudades da terra conhecem, como diz a canção. E realmente, nota-se que este trilho não é feito por ninguém, nem autóctones, nem caminheiros, pois não consta de nenhum PR homologado.
Tendo nós passado a portela ou quebrada ao lado do altinho, desceremos suavemente por entre socalcos de pasto e penedos erodidos pelos elementos até começarmos a ver e entrarmos na aldeia do Gestoso.

A parte por onde entraremos apresenta as casa mais antigas, sendo que o resto da aldeia, fortemente marcada pela emigração, apresenta hoje um perfil arquitetónico pouco tradicional.
A partir do Gestoso, fletiremos à direita, em direção ao PR15 que passa perto.




Uns 1500 metros de subida muito suave colocam-nos lá e, uma vez no PR, seguiremos pela esquerda, em direção à Anta da Portela (para alguns é uma revisitação) ponte das lajes e ao fundo, a pedras boroas (outra revisitação).

Depois das pedras boroas seguiremos ainda pelo PR15 até ao cruzamento de onde se avista a casa do Vidoeiro e aí encerramos a caminhada.
Esta zona da serra não sofreu muito com os fogos, porque já não tinha vegetação e era zona de pastagem, que continua a renascer ano após ano.